
Por que você partiu tão cedo? Teu assento ainda nem esquentou. Acho que tenho problemas com assentos frios. Foram beijos longos, suspiros fortes, declarações imensas e troca de calor entre dois corpos que certamente se amam, mas que ainda estão verdes para o amor. Assentos frios me machucam por achar que qualquer conversa não pode terminar antes de começar propriamente. Não se pode esvaziar um copo antes que ele esteja totalmente cheio, senão é trapaça. Minha mão nem sequer segurou a tua direito. Há uma sensação de ainda não ter te abraçado como eu deveria e até mesmo nosso beijo, um presente divino, se separou antes de meus lábios terem tocado os teus devidamente. Um assento frio só machuca tanto por você não ter ficado sentado o tempo que deveria, quer dizer, o tempo que eu esperava que ficasse. Me pergunto quantos assentos você deixou assim sem calor, sem teu cheiro. Assentos frios não têm história, tampouco assentos vazios criam histórias. Casas vazias, ninhos vazios, cadeiras vazias, vidas vazias, o grande problema é o vazio. Nada vem do vazio. O vazio e persegue e me aterroriza. Por que o vazio? O vazio é tão frio, tão assustador, tão falho, tão vazio. Teu assento ainda está aqui esperando pra ser esquentado, teu maldito assento insiste em olhar pra mim e me fazer milhares de perguntas. “Por que foi assim? Foi culpa tua?”, cale-se, assento! Já basta minha mente e minhas paranóias de menino apaixonado. Cale-se, assento! Cale-se, você! Calo eu!